A dificuldade de ser uma pessoa ansiosa é lidar com um instinto que me odeia
Ontem enterrei meus sonhos.
Alguns recentes, alguns bem mais velhos que outros. O que importa é que me peguei colocando nomes, datas e pequenos obituários em vários objetivos e ideias que tive ao longo de 24 anos de vida. O resultado foi um cemitério gigantesco, um verdadeiro memorial de guerra.
Vendo os atestados de óbito de cada um deles, foi fácil notar um padrão: morte por instinto.
As lápides em meu cemitério pessoal mandam uma mensagem bem clara: meus instintos me odeiam. Para ser ainda mais acertiva, meus instintos são assassinos terríveis e cruéis de tudo aquilo que ouso chamar de importante.
Modus operandi: tagarelar na minha cabeça até que a catastrofização das consequências sejam mais fortes do que o sonho em si.
Confesso que não foi uma grande surpresa, afinal convivo com ansiedade e depressão tem um tempinho considerável, mas a conclusão não deixou de me abalar.
Sempre fui alguém que gosta de observar, estar atenta a sinais, detalhes, visões detalhistas do mundo e das pessoas ao meu redor. Isso, é claro, inclui meus instintos. Sou da opinião que, se você não está confortável/com medo/receoso por algum motivo não identificado — ou até mesmo identificado, mas infundado) — cautela é importante e recomendada.
O problema? Meus instintos sempre estão desconfortáveis/com medo/receosos de qualquer situação não rotineira e, por vezes, até da rotineira — aquele ditado da calmaria que vem antes da tempestade é uma das frases favoritas do meu homicida de estimação
Ele não está sempre errado, apesar de estar frequentemente incorreto e exagerando em níveis estratosféricos. Mesmo assim, quantos sonhos e projetos não caíram por terra depois de um golpe do instinto?
É triste, apesar de, em alguns momentos achar estranhamente cômico; já tive cada linha de raciocínio completamente maluca e sem nexo que me levavam a prédios caindo, acidentes de carro, linchamento publico e nas mais variadas causas de morte súbita que muitas vezes só consigo rir, depois que consigo escapulir das amarras do famigerado instinto.
No fim, apenas me reconheci como uma grande ameaça a mim mesma — logo eu que não tenho nem coragem de tirar uma fita de depilação sozinha! Mas, como não quero me subestimar, me dei algumas máximas de defesa pessoal contra assassinatos internos.
Vou seguir sempre? Muito provavelment não! Mas estar consciente dessa falha inata da minha querida e descompensada personalidade vai diminuir a contagem de lapides no cemitério (eu espero).
Até o próximo senso interno, vou cuidar dos meus túmulos com carinho e, quem sabe, exumar alguns corpos.
Os 4 mandamentos contra-instinto para pessoas instintivamente ansiosas:
Nunca tomar decisões rapidamente. O tempo é meu amigo e a pressa é um dos comparsas mais letais do instinto.
Nunca acreditar nas primeiras impressões. O instinto é rápido no gatilho mas adora errar o alvo.
Nunca manter os pensamentos apenas dentro da cabeça. Falar em voz alta, seja sozinha ou para alguém de confiança, muitas vezes acaba com os planos desse assassino sorrateiro.
Nunca ignorar por completo as ideias cataclísmicas. É uma roleta russa, então não é inteligente confiar que não há nenhuma bala de verdade no carregador.
Que texto potente e cheio de uma sinceridade crua, mas ao mesmo tempo envolvente. 🌿✨ A metáfora do cemitério de sonhos me pegou de jeito – consigo imaginar as lápides, cada uma carregando um “e se” sufocado pela ansiedade. Me identifiquei tanto com essa briga interna entre querer avançar e ser puxada para trás por um instinto que, na tentativa de proteger, muitas vezes paralisa.
Viver com ansiedade e depressão está longe de ser uma tarefa fácil. Fazer as coisas mais simples do dia a dia, como levantar da cama e realizar alguma atividade útil que você deseja, pode se tornar um verdadeiro monstro de sete cabeças. A cada dia que passa, aprendo um pouco mais sobre como esse meu sistema de "sobrevivência" funciona, porém, muitas vezes parece que ele está quebrado ou com vírus.
Compreendo sua dor. No entanto, o sofrimento é sempre individual, único para cada sujeito. Ainda assim, se abrir diante desses sentimentos e reconhecê-los é um grande passo — e fico muito feliz que você já tenha conseguido isso.
Faço terapia há bastante tempo, e foi difícil encontrar um psicólogo com quem eu me identificasse e, além disso, que utilizasse técnicas reconhecidas cientificamente.
Em resumo, saiba que você não está sozinha. Mesmo de longe, nunca estamos totalmente sós. Caso queira conversar mais sobre isso, pode me chamar no Instagram: @brunakbreu
Estudo Psicologia e estou na reta final da faculdade. A cada dia, reconheço mais o quanto a mente é um labirinto, com portas e cadeados em cada uma delas. Espero que, aos poucos, você vá encontrando suas chaves e consiga atravessar essas portas. 🦋🤍🩷